segunda-feira, 4 de junho de 2012

O Mineiro

Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo
*Extraído do Jornal “A Cidade”, 16 de Janeiro de 1949, José Ribeiro da Costa.

Você conheceu o “Mineiro”? Era um pobre diabo que vivia pelas ruas da nossa Pouso Alegre. Quem, nascido nos primórdios deste século, não brincou com o “Mineiro”? Lembro-me ainda, e parece-me vê-lo agora, na hora do almoço e do jantar, com aquela barba ruiva e cerrada, com aqueles cabelos crespos, sentado na soleira da porta da minha casinha, lá na Rua do Brejo, muito gordo, coçando a cabeça ou tirando “bichos-do-pé” e, a toda hora, chamando o “estrepinho” para que fosse buscar a sua “boia”, pois tinha de ir comer em outros lugares. Um verdadeiro Pantagruel. E, assim, ele passava o dia, de porta em porta, sempre comendo. Depois ia procurar caixas de fósforos para a sua FABRICA de castiçais lá em baixo do coreto do Palácio do Bispo, onde tinha como única companhia uma arara muda e enfezada que nunca disse uma palavra siquer. Mas... quem era “Mineiro”? Pouca gente sabia que um dia ele deixou a boa terra, a Baía de São Salvador, do Senhor do Bonfim e apareceu neste recanto sagrado de Minas. Como, para nós, quasi todos nortistas são baianos, ele contrariou a regra. Era baiano e ficou “mineiro”. Seu nome? Ninguém soube. Para que? Chamavam-no “Mineiro” e ele atendia. Era o bastante. Uma das suas manias, além dos castiçais de caixas de fósforos, era lavar o nariz, para aspirar, tudo o que achava. Um pau de fósforo, um cavaco de pau ou de vidro, ia logo às narinas largas para cheirar. Todas as tardes, lá na vargem da Câmara estava ele revolvendo o lixo que o Arlindo deixava, cheirando tudo que pegava. Um dia ele achou um vidro fechado. Abriu-o e levou-o ao nariz, tombando desacordado, para recuperar os sentidos e... perder a razão daí há pouco. E o “Mineiro” inofensivo, o “Mineiro” que vivia rodeado de “estrepinhos”, passou a fazer medo. Levaram-no para Barbacena, e disseram, mais tarde, que ele havia tomado o famoso “chá da meia noite”.

Muita gente sentiu a morte do “Mineiro”... Mas, ele não morreu. Alguém, visitando aquele hospício, ao passar por um cubículo, ouviu uma voz conhecida chamando-o: “Estrepinho... oh! Estrepinho”,. Era o “Mineiro”. Perguntou de tudo e de todos... queria noticias de Pouso Alegre... da sua garotada. Eu sei que este alguém, ao se despedir de “Mineiro”, ao apertar as suas mãos, tinha os olhos marejados de lagrimas. O “Mineiro” não estava mais louco... mas estava abobalhado, sem, contudo, esquecer do seu Pouso Alegre e da sua gente... e ele nunca mais voltou. Teria morrido mesmo? Faz tantos anos... e é por isso que somente aqueles que nasceram nos primórdios deste século, sabem quem foi o “Mineiro”, e ainda sentem saudades dele, por que ele faz parte da nossa infância...

Festival da Canção de Pouso Alegre – 1998



1º lugar

A cidade da gente
Dinho Caninana

A cidade da gente
É como um abrigo
É como um porto amigo
Onde sempre se pode ancorar

É como um colo de mãe
Um pouso alegre e macio
Onde nas noites de frio
A gente vai se aninhar

A cidade da gente
É um lugar diferente
Que a gente nem sabe explicar
É a lua, a amada, o amigo
E seu povo a cantar

Pouso Alegre é a cidade
Mais gostosa que eu já vi
Pouso Alegre eu morro de amor por ti


domingo, 3 de junho de 2012

Trajetórias e histórias do rock em Pouso Alegre/MG (1985-2010): da garagem ao triunfo

Alexandre Lopes Costa
Ana Eugênia Nunes de Andrade

RESUMO

O artigo “Trajetórias e Histórias do Rock em Pouso Alegre/ MG (1985-2010): Da garagem ao triunfo” tem como objetivo trazer uma nova abordagem sobre a manifestação cultural. Este movimento é constituído por apreciadores e músicos ligados ao rock e a subgêneros do estilo. Através da História Oral e da análise de fontes como cartazes buscamos levantar questões que permitissem um novo olhar frente aos seguidores do movimento. De acordo com os depoimentos e informações contidas nas fontes de pesquisa foi possível observar a existência de um movimento que luta contra o preconceito e estereótipos de julgamentos, muitas vezes, feitos de forma equivocada pela sociedade. Percebeu-se a existência de estratégias dos sujeitos integrados ao movimento para a permanência, resistência e sobrevivência deste. Há também rupturas que ocorrem durante o período estudado como a falta de apoio financeiro e de espaços físicos para realização de shows, bem como a inclusão do movimento na cena cultural da cidade.

Palavras-chave: Cultura. Memória e Rock.

ABSTRACT

The article "Trajectories and stories of Rock in Pouso Alegre/MG (1985-2010): garage for victory" aims to bring a new approach about the cultural manifestation. This movement is made up of lovers and musicians rock and bound to the subgenres of style. Through Oral history and analysis of sources such as posters we raise questions which would have enables a new look forward  to followers of the movement. According to the testimony and information contained in search sources was possible to observe the existence of a movement that fight against prejudice and stereotypes of trials, often misguided, made by society. It was realized the existence of integrated strategies of subject to movement for the survival and resistance of this milestone. There are also ruptures that occur during the period studied, namely lack of financial support and physical spaces for shows, as well as the inclusion of movement in the city's cultural scene.

Key-words: Culture, Memory and, Rock
 
O artigo intitulado Trajetórias e histórias do Rock em Pouso Alegre/ MG (1985-2010): da garagem ao triunfo procura compreender as permanências e rupturas que permeiam o movimento na cidade de Pouso Alegre, sul de Minas Gerais, buscando entender as estratégias de sobrevivência dos seus integrantes.

O Underground pode ser entendido como submundo, ou seja, “abaixo” do mainstream[3]. Esta cena opõe-se a hegemonia na produção artística e a uma forma única de arte sustentada pelas elites da sociedade. Tudo que não está na mídia e não é comercial, diferentemente do popular ou da massificação é considerado Underground.

O termo “The Undergrounds”, também foi usado para os movimentos de resistência ligados a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, este termo, foi aplicado aos movimentos contra culturais, surgidos na década de 60. A partir daí, este passou a designar várias subculturas, as quais são importantes para melhor compreendermos esta pesquisa que envolve  os caminhos do rock.

Estas diversas vertentes do estilo estão inseridas dentro do tema e surgiram mediante a prosperidade econômica, o desenvolvimento do modelo de estado do bem-estar social, a expansão das indústrias culturais e dos meios de comunicação de massa, a maior oferta de bens de consumo e das atividades de lazer. Através destes fatores, se forma uma nova condição, na qual, a juventude busca liberdade e também seu pertencimento, sua identidade.[4]

Somente em um segundo momento, percebemos que com a chegada de novas tecnologias e da internet, melhoraram um pouco o acesso a essas informações. Essa troca se faz importante para a resistência e para a sobrevivência de grupos que engloba gírias, códigos, símbolos, tipos específicos de roupas, ritmos musicais, espaços undergrounds, eventos, bandas, etc.

Essa diversidade de elementos é importante, em nossa tentativa de compreender e entender a formação, as práticas e as representações destes grupos. O historiador Roger Chartier[5] nos lembra que a realidade social é construída por “esquemas” de representações em acordo com os interesses de grupos sociais, e são responsáveis pela criação de “símbolos”, as quais a realidade ganha sentido, tornando-se inteligível. Logo, todas as relações sociais são intermediadas por representações.[6]

Considerados por diversos autores como “tribos”, ou “grupos urbanos contemporâneos”, que contrastam em nossas cidades nos dias de hoje. Essa fragmentação ocorre com mais freqüência a partir dos anos 80, e no Brasil, as portas se abrem ao estilo em meados desta década.

Nosso objetivo é fazer uma reflexão acerca do movimento, observando as práticas e representações sociais e culturais através de materiais de divulgação como cartazes, panfletos que nos possibilita perceber, as dificuldades existentes para permanência do movimento e de algumas bandas, assim como as transformações ocorridas dentro do movimento, como falta de apoio, e de espaços na cidade bem como o preconceito existente da sociedade de uma forma geral, para com o movimento e seus integrantes.

Buscamos entender as transformações ocorridas dentro do movimento underground na cidade de Pouso Alegre entre os anos de 1985 a 2010, observando os diversos elementos que o constitui, a maneira que os integrantes buscam seus espaços e se envolvem na construção do movimento. Thompson[7] alerta para observarmos “os modos de fazer, as construções destas manifestações”, as permanências e rupturas existentes no movimento.

Ao observamos os depoimentos e os cartazes dos eventos, percebemos as dificuldades enfrentadas para a sobrevivência do movimento onde a falta de apoio e até mesmo a existência de um forte preconceito, dificultam as realizações e a busca por espaços, bem como integrar o movimento aos eventos culturais da cidade.

As fontes para a realização deste trabalho nos permitiram compreender um pouco da história deste movimento, analisando depoimentos, cartazes e fotografias. Isto nos possibilitou perceber algumas questões que nos trazem a inquietação, como certos julgamentos e pré- conceitos e até mesmo uma rejeição por parte da sociedade para com o movimento.

A História Oral é de suma importância para revelarmos algumas lembranças de nossos depoentes, o que nos ajuda a revelar fatos importantes para nossa analise:

“A história oral seria inovadora primeiramente por seus objetos, pois a atenção especial aos dominados aos silenciosos e aos excluídos da história mulheres, proletários, marginais etc. Em segundo lugar seria inovadora por suas abordagens que dão preferência a uma “história vista de baixo” atenta as maneiras de ver sentir e que as estruturas “objetivas” e as determinações coletivas prefere as visões subjetivas e os percursos individuais numa perspectiva decididamente “micro histórica”.[8]

Assim faremos uma leitura resignificando uma breve história do rock em Pouso Alegre, trazendo a visão de músicos, organizadores de eventos e do público em geral que apreciam o rock e o tomam como parte significativa de sua vida. “Thompson[9] retrata o que considera uma cultura tradicional rebelde. E identifica uma consciência dupla que resiste, em nome dos costumes, às inovações econômicas e sociais do avanço do capitalismo.”

Existem, os que aceitam, e os que contestam a abertura econômica e política, não aceitam o capitalismo como forma de sistema econômico e as conseqüências que ele traz.

Acompanharemos a partir deste momento as mudanças que ocorreram dentro do movimento na cidade de Pouso Alegre. Vamos conhecer através das entrevistas, cartazes e fotografias, as bandas e a cena local, as estratégias usadas para conseguirem informações e adquirirem fitas k7 e vinis. Também perceberemos o quanto era caro se ter um instrumento musical para se formar uma banda.

As primeiras informações sobre bandas de rock em Pouso Alegre, que foram obtidas através de história oral, datam do fim dos anos 60 com Pedro Tiburcio que de maneira informal ele nos conta: “Em 1968 eu tinha uma banda aqui em Pouso Alegre já, chamava Tulipa Negra, agente gostava do Classic rock, Beatles ,The animals, The Who, meu sonho era tocar guitarra, era viver de música, agente gostava muito de rock n roll”.

Em seguida temos uma banda que mesmo não sendo de origem pouso alegrense marcou presença na cidade, a banda Recordando o Vale das Maçãs. Ela foi formada em 1973. Em 1975 o grupo foi formado por Fernando Pacheco tocando guitarra e violão de 12 cordas; Fernando Motta no violão e percussão; Luiz Aranha tocando violino; Moacir Amaral na flauta; Eliseu de Oliveira (Lee) nos teclados; Ronaldo de Mesquita (Gui) tocando contrabaixo elétrico; Milton Bernardes na bateria; vindo de Santos – SP os músicos Fernando Pacheco, Fernando Motta e Domingos Mariotti, passaram por Ouro Fino, fundaram a banda e trouxeram para Pouso Alegre seu estilo diferenciado de fazer música, com o ambiente musical inspirado em experiências com o contato com a natureza. Outros músicos  da cidade demonstraram interesse no trabalho e mais tarde fora convidados a  se juntar à banda.

O Recordando o Vale das Maçãs voltaria aos palcos na cidade de Pouso Alegre alguns anos mais tarde, pois em 2007 a banda volta às atividades com uma nova formação e aos palcos pouso alegrenses. O Teatro Municipal de Pouso Alegre e o Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubistchek da cidade foram palco de diversas apresentações da banda, como nos conta Giuliano Tiburzio:

Em dois mil e seis, quando eu fui pra faculdade de música, eu, Tom Zé, eu conheci um outro tecladista lá, eu queria montar um trio progressivo, aí a gente chamou o Pacheco pra trocar guitarra. Aí ele incorporou a gente a no “Recordando” o que é o rock progressivo, tradicional. E a gente incorpora este projeto né, recordando e então desde então a gente ta no “Recordando o Vale das Maçãs,” tocar progressivo acho que é mais difícil do que tocar metal.
 
 Uma das primeiras bandas a tocar rock pesado com influências da época na cidade foi à banda Di metal. Por volta de 1978 eles ensaiavam no centro da cidade, próximo a Igreja matriz, local onde havia uma padaria conhecida como “Padaria Central” e onde hoje funciona um supermercado com o mesmo nome. A banda formada por Nicholas, Geraldinho, Marquinho e Nicinho foi um marco no início do movimento underground na cidade, influenciando as gerações posteriores na cidade e tocando um pouco das principais influências da época.

Nossos depoentes falam com ares de saudade das lembranças que têm da época, um momento de recordações de bons tempos onde o rock na cidade estava apenas engatinhando.

As memórias são, portanto experiências historicamente construídas constantemente modificadas e experiência uma criação constante da memória que faz o passado servir para fazer o presente. Pensar memória experiência e diversidade cultural é fundamental para discutirmos o processo histórico.[10]

Nesta perspectiva as lembranças, recordações e narrativas de experiências vividas pelos nossos depoentes, foram atualizadas para o presente, tentando assim buscar novos significados, observando sempre as transformações e o “não dito”.

Em entrevista realizada com Fabiano[11], integrante da banda Black Birds, Fabiano nos fala melhor de detalhes da vestimenta da época e de suas influências:

Eu comecei a tocar escutando as histórias do Di metal, falaram pra mim que o Nicinho pra mim que o Nicinho era um cara muito loco e eu cheguei a inicia um esquema meio que paz e amor, que nem eles no rock’n roll, assim fora do da geração pouso alegrense, sociedade em geral, achava que era ideologia de vida entendeu. Falaram, pra mim que o Nicinho cara, andava com um teve uma época que ele foi pros EUA e quando ele voltou ele voltou  pirado mas antes dele ir pros EUA   ele já andava assim , com tamanco calca de boca de sino sem camisa de colete cabelo solto loiro, e queria ser confundido com o Robert Plant (risos) Ele andava de calça santropê que nem o Robert Plant, boca de sino, ele queria ser confundido com Robert Plant ,O começo foi eles, O Di metal, em 84 ou 85 mais ou menos[12]

Na entrevista Fabiano nos fala sobre o vocalista Nicinho do Di Metal e sua influência pelo rock n roll que na época começavam a estourar como o Led Zepellin, citando o nome do vocalista Robert Plant. O rock em Pouso Alegre teve um período de grande movimentação, segundo nossos depoimentos. Depois do Di metal, surgem muitas bandas, os shows aconteciam no antigo Cine Eldorado, no centro da cidade de Pouso Alegre, na esquina da rua Comendador José Garcia com a Rua Adolfo Olinto, uma rua abaixo da praça principal da cidade.

Outra banda que se destaca já no início dos anos 90 foi o Black Birds, na entrevista com Adriano ele nos conta sobre:

O Black Birds começou fazendo uns covers, mas logo gravaram um cd com músicas próprias. Marcelo Rosa e Fabiano Lobão “apelido que eu dei” nas guitarras, Tutu no vocal, Eliezer Cascão na batera e Claudemir no baixo. Os caras eram muito bons mesmo. Tive o prazer de fazer um show com eles no antigo Varanda, na boate que ficava no subsolo. Na época, o Fabiano tinha uma guitarra Shark, uma coisa que impressionava as meninas. Tempo bom aquele.[13]

Em Pouso Alegre saiu uma excursão para o Rock n Rio I, o qual foi o estopim para a explosão definitiva do rock no Brasil. Algumas curiosidades sempre acontecem nestas viagens e esta não seria diferente. Fabiano não retornou com a excursão do rock n rio, ele ficou por lá por mais quatro dias, apreciando a cidade, porém ele se esqueceu de avisar os colegas que desesperados tentavam localizá-lo. 

Neste mesmo período alguns políticos, candidatos e seus partidos, traziam para seus comícios bandas do cenário pop rock e do rock nacional para tocarem em Pouso Alegre como relatam nossos depoentes. Nesse período bandas como Barão Vermelho, Ultraje Arrigor, Titãs e RPM tocaram na cidade, aumentando ainda mais alguns conflitos que já existiam na mesma. Ao entrevistar Gian[14] uma das figuras mais presentes na cena rock n roll em Pouso Alegre, ele conta um fato curioso acontecido em um dos shows em Pouso Alegre:

Um fato curioso aconteceu no show da banda Titãs, a apresentação ocorreu de baixo de muita chuva, e o publico estava curtindo mesmo assim, uma “roda” se abriu e pessoal  estava agitando em frente ao palco, como de costume né, balançando a cabeça, empurrões, socos no ar,  como em todos os shows de rock, sem violência, quando sem entender o que estava acontecendo a policia resolveu intervir e dispersar o público agindo com violência, cassetetes, socos e chutes foram dados contra o povo, quando a banda parou de tocar  e eu me lembro certinho o vocalista perguntando o que esta acontecendo aí vamos parar gente, abuso de autoridade não.

E então a banda volta ao palco e toca com ar de provocação um de seus sucessos na época a música chamada Policia[15]:
“Dizem que ela existe
Prá ajudar!
Dizem que ela existe
Prá proteger!
Eu sei que ela pode
Te parar!
Eu sei que ela pode
Te prender!...
Polícia!
Para quem precisa
Polícia!
Para quem precisa
De polícia...(2x)
Dizem prá você
Obedecer!
Dizem prá você
Responder!
Dizem prá você
Cooperar!
Dizem prá você
Respeitar!...
Polícia!
Para quem precisa
Polícia!
Para quem precisa
De polícia.”


A música fala da repressão policial que ainda ocorria no país, na tentativa de controlar a liberdade de expressão. A letra e o estilo agressivo é uma forma de protesto contra um sistema repressivo e nos mostra uma forma de abordagem policial repressora e o abuso de poder. Ela também faz uma sátira ao sistema de segurança no Brasil. A música é tocada em um ritmo acelerado com três acordes simples, a batida lembra o punk rock de bandas como Ramones, The Clash, entre outras. 

As bandas que faziam a abertura desses shows eram bandas locais como o Black Birds e a Alma Azul, elas se apresentavam na maioria das vezes para um grande público. Esses shows marcaram o rock na cidade aconteciam muitas vezes em lugares abertos amplos com um som de qualidade alugado para os comícios, que acabaram ajudando no surgimento de mais adeptos do rock na cidade e inserindo Pouso Alegre no cenário do rock nacional. A banda de Fabiano foi a banda de abertura nos anos seguintes para as bandas Barão Vermelho, The Falla e Viper  e gravou também uma faixa para o CD- ROM da Esquadrilha da Fumaça. Logo em seguida vieram bandas como: Viper, Garotos Podres, Dr.Sin e Angra que se apresentaram em uma casa de shows chamada Varanda, local um pouco mais afastado do centro da cidade.

A partir de 1985 a cena começa a movimentar em Pouso Alegre, a banda Black Birds e Alma Azul fazem apresentações mais freqüentemente na cidade, em lugares como a danceteria Maracanã. Alguns locais viram ponto de encontro dos headbangers, como bares, lanchonetes, praças e o conservatório estadual de música de Pouso alegre, onde muitos músicos estudaram, e que dali saiu muitas bandas que fizeram parte da cena em Pouso Alegre. O conservatório chegou a ser utilizado por algumas bandas para realizarem seus ensaios como nos conta Fabiano:

Nós conhecíamos o segurança e os horários que a sala de ensaios estava livre, daí esperavam lá fora, eu era aluno e já sabia os esquemas passava ali observando enquanto via que estava livre pegava a chave ia La fora chamava o resto do pessoal e trancávamos na sala de ensaios por horas, o pessoal queria morrer com a barulheira , mal sabíamos tocar ainda, era só o começo.

Fabiano nos fala de detalhes sobre marcas da época e suas estratégias para conseguir ensaiar e tocar dentro do Conservatório, na época havia pegado fogo e foi quase todo queimado, restando apenas alguns instrumentos e nada do prédio, que foi reformado apenas muitos anos depois, para novamente se instalar o Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitschek.

Apesar da existência de um Conservatório Estadual de Música, o espaço para o rock sempre foi muito pequeno e o preconceito sempre existiu até mesmo dentro de uma cena musical. Os locais onde as pessoas frequentavam eram diversos. Cada época teve seus lugares principais, como o Bar Mucho Loco (Bar do Robinson), o Bar Woodstock, o Bar do Raul, Varandinha, Varanda, Banana Monkey, Bar 18, entre outros.  Eram pontos de encontros freqüentados por apreciadores, músicos e o público que gostava do rock na cidade.

Na imagem abaixo é apresentado um cartaz de um evento onde a banda Black Birds juntamente com a banda Toque de Midas, tocaram no Bar Varandinha, no bairro Esplanada. Percebemos que o patrocínio praticamente não existia, no cartaz apenas havia um apoio de uma marca de cerveja ao dono do estabelecimento que negociavam descontos nas bebidas. O cartaz é simples, impresso com apenas duas cores como podemos observar.


No cartaz abaixo observamos a composição gráfica em apenas duas cores, preto e vermelho, que era o mais barato na época. Porém já é possível perceber alguns apoios, mesmo que de empresas de amigos dos músicos como o também vocalista Tutu Cabeleireiro. Notamos também que os outros anunciantes comercializavam produtos voltados aos jovens como tênis, roupas e lanches.


Release da Banda Os Neuza 1993

No release percebemos a abrangência de estilos, as influências e a proposta descompromissada da banda, pretendendo apenas tocar rock n roll e seguir seus ídolos, se sentindo bem tocando o som que gostavam.


A juventude buscava a liberdade e as formas de se expressarem eram diversas, além do cabelo comprido, as vestimentas. Eles queriam festejar, sentirem-se livres, queriam mostrar a existência de uma liberdade de expressão, ir contra os estereótipos e os preconceitos existentes na sociedade.
As escolas sempre tiveram um papel fundamental, sempre abrindo espaços e deixando as bandas se apresentarem. Estes eventos culturais se tornam importantes para a formação e a integração social e cultural dos alunos. Mas nem toda escola era assim muitas escolas conservadoras não deixavam bandas de rock se apresentarem. Nem mesmo alunos entrarem de camisas pretas de bandas.


Na imagem observamos as formas de curtir dos jovens, um clima festivo de descontração sem violência, apenas se expressando e festejando o dia dos professores. Percebemos também que a fotografia foi retirada em um ambiente escolar, a Escola Estadual Dr. José Marques de Oliveira, uma das principais e mais antigas escolas de Pouso Alegre.

As bandas na região também eram muitas e sempre que podiam faziam apresentações por aqui, como uma das bandas mais antigas do underground mineiro o Corpse Grinder de Machado, cidade vizinha a Pouso Alegre. As bandas passam a surgirem nas garagens, nos novos bairros da cidade, como o bairro Esplanada e Árvore Grande de onde vieram muitas pessoas de fora, como de São Paulo e do interior em busca e emprego, uma vez que grandes indústrias se instalaram na cidade nesse momento e a procura por mão de obra fez com que ocorresse um aumento significativo da população de Pouso Alegre.

Dentro do movimento existem diversos fatores que devem ser analisados, como a música como forma de expressão e de contestação, muitos dos integrantes ao movimento são trabalhadores que não têm tempo para estudarem no conservatório, mas também usam a música e o instrumento como uma ferramenta para se expressar, para se sentirem livres ou apenas por gostarem do que fazem.

Ao entrevistar Guilherme[16] dono de um bar em Pouso Alegre, voltado para o público do estilo rock. Pessoas de todas as faixas etárias vêm de bairros mais afastados para se divertir, os freqüentadores são de todas as classes econômicas, eles discutem e conversam sobre temas diversos e trocam informações sobre música. Guilherme nos conta mais sobre a história do rock na cidade e fala também de nomes importantes tanto de bandas quanto de músicos que desde a época estão envolvidos no meio, incluindo o entrevistado:

Eu não sou músico, mas sempre estive entre eles, sempre gostei muito do rock na época agente trocava fitas k7, vinil, e tínhamos pouca coisa, era muito caro, hoje não hoje ta tudo mais fácil, mas então Lá por volta dos anos 1972,1973, sempre tinha uma banda tocando nos barzinhos no teatro, no Clube Literário, agente tava em todos , tinha muita gente que gostava e as bandas eram muito boas , tinha outros bares também, até no uirapuru , tinha a Shadows era uma casa de show bacana, as bandas tinha o Di Metal do Pacheco, tinha Black Birds do Fabiano Lobão, o Alma azul do Toledo daí depois veio à censura, os pais não deixavam os filhos saírem , eu saia mesmo assim.( risos) tinha muita coisa boa, lembrei-me do Imbuia, do Mesquitão, não era um rock mas fez parte também, tinha o Space Invaders os filhos dele, tinha o Recordando o vale das maçãs do Pacheco também tocava progressivo de primeira vieram de santos pra cá, em seguida já veio às bandas de rock mais pesadas influenciadas pelo Heavy Metal dos anos 80 como, Mr. Wizard do Raposão, O Ahura Mazda  do Maurão, são muitas viu era muito legal...[17]

Guilherme fala com ar de saudade e emocionado recorda dos amigos, os quais hoje ele recebe em seu bar sempre ao som do rock‘n’roll. Ele se diz feliz por relembrar esse tempo e acredita que antigamente era mais difícil fazer parte e gostar de rock, já que o preconceito era maior e existiam maiores dificuldades de comunicação e de troca de informações sobre novidades de músicas e bandas, além da situação financeira que não permitiam a aquisição de discos e materiais das bandas que mais gostavam.

Em Pouso Alegre, a cena underground sempre foi agitada, porém sem muito apoio. Havia muitos artistas, mas poucos espaços para que eles pudessem se apresentar, causando assim um problema para os músicos e pessoas envolvidas na arte e cultura de modo geral.

A cena alternativa também era forte, pois nem todos gostavam de rock pesado, muitos também se expressavam com letras próprias e som menos pesado, porém com letras que também faziam críticas a problemas sociais e a realidade em diversos contextos.
        
Como observamos nos cartazes, o apoio das bandas e dos eventos, sempre foi muito ruim por parte de setores públicos, desde o surgimento do movimento até bem pouco tempo atrás, como podemos ver no cartaz da primeira edição do evento Triumph of Metal realizado no ano 2000.

A primeira edição do Triumph of Metal foi idealizada ainda no final do ano de 1999 e foi efetivamente realizada no dia 09/04/2000, contando com a participação das seguintes bandas: Tuatha de Danann, Corpse Grinder, Punishment, Mr. Wizard, Menorah e Seventh Steel. Eu e Gustavo de Oliveira demos esse ‘ponta pé’ inicial. O evento surgiu da necessidade (na época) de suprir uma carência de festivais de Rock/Metal aqui na cidade de Pouso Alegre/MG. [18]



Percebemos no cartaz da primeira edição do evento a presença de bandas locais e de cidades da região como Machado, Paraguaçu e Varginha, um dos apoiadores faz questão de mencionar com destaque, o apoio a cultura. Observamos também a questão social e a preocupação dos organizadores em fazer em todas as edições do festival e de outros eventos, arrecadações de alimentos não perecíveis. 1 kg por pessoa chegando a arrecadar uma quantidade significativa que era repassada as instituições de caridade da cidade.
A repercussão da 1ª edição foi bastante positiva e o Jornal Sul das Gerais publicou em 24/04/2000 um texto bastante elogioso em sua página 06, conforme reprodução abaixo:


No texto do jornal podemos perceber os elogios e a confirmação que o evento foi em clima de confraternização e respeito. Percebe-se também que quem escreveu a matéria coloca sua opinião sobre a visão da sociedade para com o rock, uma visão preconceituosa e com estereótipos. Os patrocínios foram todos de empresas particulares, com exceção a Associação Comunitária de Marcos Campanella, dentista e vereador, envolvido no meio político da cidade e proprietário de uma rádio comunitária, que posteriormente cedeu um espaço em sua rádio Nova FM para a realização do programa Long Live Rock que acontecia todo sábado no período da tarde, e só tocava rock n roll.

Três anos depois da realização da primeira edição, os organizadores do evento, se esforçam para dar continuidade ao evento, com a responsabilidade de melhorar ainda mais, tanto em relação ao som fornecido às bandas, quanto ao espaço físico oferecido ao público e a divulgação, pois o evento estava ganhando nome e a tendência era de crescer cada vez mais.

Cartaz da 2ª Edição do Triumph Of Metal Festival 2003

Na segunda edição observamos a mudança no papel do cartaz e melhor qualidade na impressão e nas cores do cartaz. Também há o aumento significativo do número de patrocínios, os apoiadores culturais são empresas e o comércio local. Nota-se que em nenhum espaço existe órgãos públicos, apoio a cultura ou da prefeitura local.

Muitas foram às dificuldades enfrentadas pelo movimento e pelas bandas, com relação a essa falta de espaço para se apresentar. Devido ao estilo agressivo e pesado e distorções com uma bateria forte e rápida, formando uma música de volume alto, o que incomodava muito a população, os vizinhos dos locais de ensaios, os vizinhos das casas de shows e o público em geral, criando-se então, uma tensão e um conflito por espaços. Muitas vezes a polícia foi acionada para chamar a atenção dos organizadores ou donos de estabelecimentos e locais de ensaios, mas a Lei do Silêncio sempre foi respeitada e quando solicitado, o evento era imediatamente encerrado, sem maiores problemas. No depoimento de Rodrigo, ele nos fala sobre as características dos eventos e dos headbangers:

Em nenhum evento do movimento underground ocorriam coisas desagradáveis, como brigas, depreciações, roubos ou quaisquer outros tipos de ato contra lei, o pessoal parece ser bravo, com cara de mal, vestido de preto e tal, daí você vai conversar com o cara o cara é uma “moça”(risos)  no bom sentido da palavra é tudo gente fina[19]

O que nos leva a entender, que as pessoas que gostam do som e do movimento são unidas, onde os integrantes se respeitam e se unem em torno do estilo musical. Aumentando a força com intuito de não deixar nunca o movimento acabar e fazê-lo crescer sempre e a cada dia mais.

Cartaz da 3ª Edição do Triumph Of Metal festival – 2004

No cartaz da terceira edição apresentado, percebemos uma redução significativa no número de patrocínios e apoios. No centro do cartaz, a imagem de uma mulher semi-nua, não foi muito bem aceita, causando desconforto a comerciantes locais.  Talvez um dos motivos para tal redução e também pelo fato de o evento ter sido realizado em um espaço curto de um ano de intervalo apenas de uma edição pra outra, o que é comum em eventos de outras cidades.

A terceira edição do evento foi realizada com bandas de maior expressão, na cena, em um dos espaços de maior capacidade da cidade, a casa de shows chamada Planeta Azul. Uma casa própria para este tipo de eventos com capacidade para mais de 3000 pessoas.

Mas o que se esperava era que acontecessem edições anuais como é o caso do Roça n Roll em Varginha, mas devido a falta de apoio e as muitas dificuldades enfrentadas para  a realização de uma quarta edição, que aconteceria somente seis anos mais tarde.
No ano de 2006, um CD, com músicas próprias das bandas da cena alternativa e underground da cidade, foi lançado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, algo começava a mudar na perspectiva de apoio a esse movimento. O reconhecimento enquanto cultura e a abertura de espaços e do direito ao apoio cultural passaram a fazer parte do cotidiano da relação de poder do estado para com os movimentos culturais da cidade. O disco se chamava Mandu sem Fronteiras como veremos nas imagens a seguir:


 Capa CD Mandu Sem Fronteiras 2006

O disco vem com um ar de rebeldia, como percebemos a capa nos remete a ideia de músicos que quebraram a cabeça de tanto pensar e não tinham onde se expressarem. As músicas selecionadas são de bandas escolhidas pelos organizadores do disco, grande parte das letras do disco são em português como observaremos:

Parte interna do encarte do CD Mandu Sem fronteiras
Caricaturas dos integrantes das bandas participantes do disco

As caricaturas representam os integrantes das bandas que participaram do CD, que foi um marco para a cena cultural na cidade, já que não tivemos conhecimento de nenhum outro projeto apoiado pela Lei municipal de Incentivo à Cultura. Com estas leis, foi possível com que o movimento obtivesse uma importante conquista, somente em 2010, foi conseguida a aprovação do evento Triumph of Metal pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

Com a aprovação do evento pela lei os recursos da quarta edição do evento foi idealizada, mas faltava recolher os patrocínios, para que tudo rolasse com mais tranqüilidade, sem dificuldades e prejuízos.

A ideia do quarto Triumph se firmou quando um produtor de eventos que morava em São Paulo, mas que tinha família em Pouso Alegre e que viveu o movimento Underground na cidade, trazendo sempre shows do cenário rock para a cidade de seus pais. Bandas como Angra e Viper, foram trazidas por ele, e então Marcel Castro, marca um show do primeiro vocalista da banda Iron Maiden, Paul Di Anno, na cidade de Pouso Alegre.
Quando soube que o movimento underground havia se fortalecido, decidiu então apoiar o evento Triumph of Metal e uma parceria então foi feita para a realização da quarta edição do evento, desta vez, com uma atração Internacional.
    Cartaz da 4ª edição do Triumph of Metal, 2010

A quarta edição foi bastante aguardada, pois apenas após seis anos, outra edição seria realizada, devido a falta de apoio.  Agora a cidade ganha um presente que marcou a história do rock no sul de minas, a passagem de um ídolo de gerações anteriores, ex- vocalista de uma das maiores se não a maior banda de Heavy Metal de todos os tempos, o Iron Maiden.

Percebemos uma transformação com o decorrer do tempo, onde os incentivos começam a aumentar e o movimento a ganhar apoio da Prefeitura Municipal de Pouso Alegre e do governo do estado, o underground passa a se integrar como um evento cultural. O surgimento das leis de incentivo a cultura fazem com que o movimento se fortaleça.

Na década de 90, percebemos que o patrocínio para eventos de rock em Pouso Alegre praticamente não existia e que era comum a composição gráfica dos cartazes em apenas duas cores, pois era mais barato na época. Com o passar dos anos é possível perceber alguns apoios de empresários, amigos dos músicos e de lojas que comercializavam produtos voltados para o público jovem. Ao estudar estas práticas culturais descobrimos formas de resistências e manifestações, bem como, o apoio dado pelas Leis de Incentivo à Cultura nas esferas municipal e estadual.

Na tentativa de melhor compreender significados de movimentos sociais urbanos, buscamos, através das memórias de nossos depoentes, lembranças de experiências vividas e de práticas cotidianas que nos auxiliaram no entendimento das transformações ocorridas e dos fragmentos que permeiam o rock em Pouso Alegre. Com a realização desta pesquisa podemos verificar a existência de um movimento cultural diferenciado e pouco explorado até então. Notou-se também a sua resistência para com sua permanência. Percebemos algumas rupturas e quebra de conceitos como a aceitação do movimento como cultura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade; tradução Heloísa Pezza Cintrão, Ana Regina Lessa; tradução prefácio a 2. Ed. Gêneses. 4. Ed.- São Paulo: Editora da Universidade São Paulo, 2003.

CHARTIER, Roger. História Cultural Entre Práticas e Representações. Lisboa/Rio.

FENELON, Déa Ribeiro. O Historiador e a cultura popular: história da classe ou história do povo?  História e perspectiva, Uberlândia, jan/jun.1992

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade – 5ª ed. – Rio de Janeiro: DP& A, 2001.

________________ Da Diáspora. UFMG. Belo Horizonte. 1997.

HALL, Stuart e JEFFERSON, Tony (Orgs). “Resistance through Rituals - Youth Subcultures in Post-war Britain”, London: Ed.Hutchinson. p.21. Traduzido pelo autor: Resistência através de rituais - Juventude subculturas no pós-guerra britânico.

HOBSBAWM, Eric J. A história vista de baixo para cima. IN: Sobre história. São Paulo: Companhia  das Letras. 1998. P. 231

SARTORETO, Filipe & FONSECA, Gracielle, (Orgs) Ruído das Minas: a origem do Heavy Metal em Belo Horizonte.


quarta-feira, 30 de maio de 2012

Cadeia Pública de Pouso Alegre: uma pedra no caminho do progresso republicano


Ana Eugênia Nunes de Andrade
Fernando Henrique do Vale
  
RESUMO: Este artigo pretende levantar questões relacionadas às políticas urbanísticas do início do século XX pautadas no embelezamento urbano de Pouso Alegre. Focaremos as transformações ocorridas na Cadeia Pública da cidade e os conflitos sociais apagados pelas principais instituições. Neste período a imprensa pousoalegrense defende os ideais republicanos e os políticos buscam junto aos órgãos estaduais apoio financeiro para a reforma do prédio e posteriormente para a retirada do mesmo da Avenida Doutor Lisboa. Podemos notar a partir da análise das fontes que em nome do progresso foram demolidas do centro da cidade as construções que impediam o alargamento avenida central.

Este trabalho tem por objetivo discutir os conflitos sociais presentes no centro de Pouso Alegre, a partir das políticas de urbanização da cidade no século XX em torno da Cadeia Estadual, no período de (1874-1931), localizada nesta época na Avenida Doutor Lisbôa. O espaço público se torna um ponto de tensões e conflitos, no início do século XX, quando se propõe a necessidade de prolongamento e embelezamento da principal avenida da cidade, a partir dos ideais urbanísticos do início da República no Brasil.

A imagem abaixo é da Cadeia Estadual e foi registrada no ano de 1885, pouco antes de se iniciar o século XX. Com aspecto rural, “a povoação possue 4 praças, 26 ruas e cêrca de 400 casas bem construídas e asseiadas, das quaes mais de 80 forão edificadas nestes últimos 10 anos” (VEIGA, 1884, p. 367).

 
Imagem 1: Cadeia Estadual - Pouso Alegre, 1885[i]

Observando a imagem acima nos deparamos com detalhes que caracterizam a ruralização do município: o chão de terra batida, não tendo ainda um calçamento bem definido. Há uma defasagem na iluminação, percebendo nesta vista parcial do centro da cidade a presença de apenas um poste de iluminação. A estrutura elétrica, assim como o abastecimento de água encanada e o tratamento de esgoto só se iniciariam doze anos mais tarde.

Sendo construído no ano de 1874, na administração do Dr. Francisco Luiz da Veiga[ii], o prédio possuía características simples. Na parte exterior, logo na sua entrada no térreo percebemos a presença de seis janelas e uma porta principal, dando acesso ao interior do prédio. Já no segundo andar, contamos com a presença de sete grandes janelas, tendo também em suas laterais. Tais características remontam a muitos dos prédios públicos da época.

No pavimento térreo existem 4 enxovias, 1 enfermaria e 1 xadrez para presos que tenhão de ficar retidos por pouco tempo. As enxovias contam, cada uma 2 janellas para o exterior e 1 porta para a área que occupao centro do edifício e onde existe uma fonte; as janllas, voltadas para o nascente, têm grades de ferro singelas, as do occidente grades dobradas, sendo todas essas prisões assoalhadas de pranchões de peroba, de que igualmente são revestidas as paredes internas. Na entrada do prédio há um vasto saguão que serve também de corpo da guarda e de onde parte uma escada dupla com gradil  e corrimão envernizado. No pavimento superior existem salões para as sessões de jury e da câmara municipal, ambos com galerias, sala secreta para o jury, quartos para testemunhas, archivo da camara, gabinete para o juiz de direito e commodo para o carcereiro. O edifício mede 100 palmos de frente sobre 80 de fundos, que está voltada para uma praça regullar, 7 janellas com sacadas e grades de ferro, medindo de altura 42 palmos (VEIGA, 1884, p.368).

Percebemos com a descrição acima a estrutura do prédio, denominado pelo Almanack como “um dos primeiros edifícios do Sul de Minas”. Tal espaço era destinado também como ponto de encontro da população, onde se reuniam no denominado “Largo da Cadeia” ou “Praça Francisco da Veiga” e em seu entorno para discussões, conversas e encontros, haja vista sua localização próxima a Estação da Rede Mineira de Viação.

Ao propormos o estudo sobre a cidade, especificamente sobre um espaço público, buscamos compreender os processos de integração e interação dos sujeitos e grupos sociais que participam de seu entorno. “A memória é uma evocação do passado. É a capacidade humana para guardar o tempo que se foi, salvando-o da perda total. A lembrança conserva aquilo que se foi e não retorna jamais” (CHAUÍ 2000, p. 125).

Nesse intuito buscaremos entender as causas da demolição da Cadeia, motivos estes que merecem uma grande atenção, para compreendermos as dinâmicas citadinas. Ítalo Calvino refere-se à “cidade como um ‘organismo vivo’, sendo fruto de inúmeras adaptações ao longo do tempo. Muitas cidades, como diferentes espécies, sofreram várias mutações, readaptando-se às novas condições ou desaparecendo” (POSSAMAI, 2007, p.1-2). 

Tomando como ponto de partida a História Social, nossa discussão de desenvolverá sob o novo jeito de se pensar história, sendo assim contrário às idéias tradicionais, em que se dá importância aos grandes fatos e nomes da história. Ao se estudar o passado não devemos limitá-lo como algo finalista e conclusivo, contudo, a partir dele, compreender o presente. Em primeiro lugar, a história não seria mais entendida como uma ciência do passado.

passado não é objeto de ciência. Ao contrário, era no jogo entre a importância do presente para a compreensão do passado e vice-e-versa que a partida era, de fato, jogada. Nessa formulação pretensamente simples estava exposto o método regressivo: temas do presente condicionam e delimitam o retorno, possível, ao passado” (BLOCH 2002, p.7).

Nesta perspectiva trabalharemos através da análise de nossas fontes, sendo este um ponto chave para a compreensão do desenrolar dos momentos históricos. “Os documentos que ‘falavam’ com os historiadores positivistas talvez hoje apenas murmurem, enquanto outros que dormiam silenciosos querem se fazer ouvir”(PINSKY, 2005, p.7).

A cidade de Pouso Alegre, neste contexto, possuía um grande número de jornais que circulavam semanalmente, trazendo notícias a nível mundial, nacional e local, assim como defendendo as novas tendências de comportamento da sociedade. Possuía também traços dos ideais positivistas de modernização defendidos durante as últimas décadas do século XIX. O uso da imprensa na pesquisa histórica tem se tornado frequente por retratar um contexto e uma linguagem social vivenciada na época, sendo um meio de influência em diversos setores da sociedade.


Trata-se de entender a imprensa como linguagem constitutiva social, que detém uma linguagem constitutiva social, que detém uma historicidade e peculiaridades próprias, e requer ser trabalhada e compreendida como tal, desvendando a cada momento, as relações imprensa/sociedade, e os movimentos de constituição e instituição do social que esta relação propõe” (CRUZ, 2007, p. 260).

Utilizaremos também da análise de imagens, como suporte para entendermos as mudanças ocorridas durante o tempo. Entendemos a imagem fotográfica “(...) como uma das fontes mais preciosas para o conhecimento do passado; trata-se, porém, de um conhecimento de aparência: as imagens guardam em si apenas indícios, a face externa das histórias que não se mostram, e que pretendemos desvendar” (KOSSOY, 2007, p. 31).


 
Imagem 2- Pouso Alegre, Avenida Dr. Lisboa 1918[iii]  

A imagem acima nos mostra o cotidiano da cidade de Pouso Alegre nos  nas primeiras décadas do século XX. Observamos a presença de diversos estabelecimentos e casas. Ao lado esquerdo, à presença do Teatro Municipal. Não possuímos muitas imagens da cadeia desta época, a exemplo da imagem acima, os fotógrafos procuravam registrar imagens da cidade sempre do Teatro para cima, procurando retratar assim uma cidade dentro dos padrões de beleza da época, tornando assim exclusos aqueles pontos que destoariam de tais moldes da época.

Não por acaso, à medida que sua moda ia se alastrando, as cidades, lócus por excelência do exercício e das práticas civilizadoras, iam construindo suas versões higienizadas, oficiais e modernas do espaço público. Não por acaso, os prédios públicos e as construções arquitetônicas esteticamente mais arrojadas foram os principais alvos dos produtores dos cartões-postais (BORGES, 2003, p. 60). 

Com tais procedimentos metodológicos, passaremos assim compreender o processo histórico da Cadeia Municipal de Pouso Alegre, que muitos ainda desconhecem, por falta de uma pesquisa mais elaborada e detalhada.

O Município de Pouso Alegre, localizado no Sul de Minas Gerais, foi uma região onde acolhia os aventureiros que desbravavam a região. Entretanto, a formação do povoado se deu apenas por volta de 1747, quando os primeiros habitantes se estabeleceram. Com o crescimento da população e o desenvolvimento do pequeno povoado, assim como, pela influência do Cônego José Bento Leite Ferreira de Mello, em 1831 elevou-se a categoria de vila. Alguns anos mais tarde, em 1848, a vila foi elevada à categoria de cidade.

Do pequeno povoado, que ali se formou, onde os campos e o sentimento rural prevaleciam livremente, os cercamentos foram tomando conta e a cidade aos poucos se formando. Para a manutenção da paz e da ordem social daquele espaço, surge a necessidade da construção de uma Cadeia Municipal. Em 1874 é autorizada pela Lei 2091 do Governo Provincial, sendo construída com paredes grossas de taipas e forrada de pranchões.

Iniciaremos aqui nossa discussão, visto que a construção da Cadeia se dá a 15 anos antes da Proclamação da República, porém as discussões em torno do prédio se darão alguns anos mais tarde, onde os ideais urbanísticos estão se formando e a mentalidade republicana se consolidando, política esta que “ajudaram a promover mudanças, às vezes, substanciais tanto nos padrões de sociabilidade como nas formas de organização do espaço” (SALGADO, 2003, p. 240).

No início do século, alguns anos após a construção do prédio percebem-se a necessidade de uma reforma no prédio da cadeia:

Apezar de não ser uma construcção antiga, a cadeia resente-se da necessidade de vários melhoramentos, que tem sido introduzidos nos tempos modernos, em edifícios congêneres. Entre as maiores necessidades salienta-se a falta de água nos esgotos. Embora a limpeza da cadeia seja feita todos os dias, removendo para longe as materias fecaes,etc., não quer dizer que as mesmas não estejam constantemente em depósito, prejudicando não só a saúde dos presos, como ainda infeccionando a cidade” (OLIVEIRA, 1900, p. 90).

No Almanaque do Município de Pouso Alegre, percebemos o tom de advertência  sobre as condições do espaço em que se encontra a cadeia. O autor salienta não ser uma construção antiga, porém necessitando de uma reforma, demonstrando assim uma ligação com os tempos modernos que se instalaram com os ideais republicanos. Notamos também uma preocupação com a questão do tratamento de esgoto, pois as mesmas se encontravam é péssimas condições, prejudicando não só os que ocupavam aquele espaço, mas também a população da cidade. Entretanto, demonstra-se a mínima preocupação da cidade com este espaço.

De há muito que o governo do Estado pretende remediar estes males, e para este fim já mandou fazer o respectivo orçamento; espera, porém, que a municipalidade lhe possa ceder parte da água; quando esta tiver de proceder o abastecimento da cidade” (...) Dentro do perímetro da cidade existem pequenos mananciaes, dois dos quaes abastecem os chafarizes,não tendo ainda sido aproveitado o maior de todos elles, o que seria de grande vantagem, podendo não só fornecer água à cadeia, como abastecer três novos chafarizes (OLIVEIRA, 1900, p. 90-92).

Ao mesmo tempo em que a municipalidade se preocupava com o embelezamento e a higienização da cidade, não observamos uma ação concreta dos responsáveis, tendo em mente que a cidade possuía condições para sanar estes problemas.

Os primeiros indícios de uma possível reforma da Cadeia se dão no ano de 1905. O Jornal “Correio Sul-Mineiro” do dia 18 de fevereiro, de 1905 nos traz uma matéria ressaltando as probabilidades de uma reforma no prédio proporcionada pelo Governo de Minas Gerais.

É uma necessidade inadiável, é uma medida urgentíssima essa restauração. Não dizemos isto pelo mau e ridículo aspecto que apresenta esse casarão desmantellado, ruinoso e sujo, no centro de uma das principaes praças da cidade, dizemos porque essa restauração representa a conservação desse prédio, que como está, sem revestimento, com o telhado desfeitos e as sallas recebendo chuva, as sacadas a cahirem, as vidraças partidas, irá sempre num crescendo rápido, cada vez mais arruinando até o ponto de, imprestável, não merecer o mais leve reparo. Sejam quaes forem as intenções do governo sobre as cadeias do Estado, sejam quaes forem os planos de reforma, não será prático nem econômico deixar cahir por terra, aos poucos, um edifício que tem valor e que, convenientemente restaurado, avançará pelo tempo afora, sempre sólido e útil (CORREIO SUL-MINEIRO, 1905, p. 01) .

A necessidade se fazia urgente, pois o prédio estava em ruínas, no centro de uma cidade, sendo algo aposto aos ideais republicanos. O jornal ressalta a importância da reforma, visando à estrutura de um prédio forte que avançará os tempos solidamente de grande utilidade. O jornalista ainda ressalta a questão da higiene:

Voltamos a dizer-é uma necessidade urgente restaurál-o ou saneal-o, isso principalmente, pois falta a hygiene mais rudimentar, dentro do prédio. As enxovias estão infeccionadas, immundicie ahi é pavorosa, chega a tresandar em effluvios nauseabundos pela praça. A câmara municipal, há tempos, deixou de funccionar, há tempos, de funccionar ao prédio pelo motivo das incommodas emanações que subiam desses cubículos. Água e esgoto é tão necessário como a conservação do prédio (...) (CORREIO SUL-MINEIRO, 1905, p.01).

Porém, ao fim da matéria, tomamos consciência que uma possível reforma seria uma medida mais econômica tomada pelo Governo: 

Nós bastante temos mostrado o nosso interesse pelas cousas publicas e esta, não é somente de interesse local, affecta, e muito, os interesses do Estado. Vai na restauração da cadeia uma medida de economia e de providência, que pouco custará em relação ao seu próprio valor, pois apesar de maus estado do prédio, os concertos são vários, mas não grandes e nem dispendiosos (CORREIO SUL-MINEIRO, 1905, p. 01).

Nesta época o prédio apresentava condições precárias, evidenciando-se pelas condições da fachada e suas laterais. Um prédio sujo, em condições lamentáveis, necessitando de uma reforma urgente.  Porém, as discussões sobre a Cadeia serão retomadas pela imprensa, 13 anos mais tarde, não mais com as mesmas intenções de reformar um prédio já existente, mas sim com projetos da construção de uma nova cadeia. O jornal “A Gazeta de Pouso Alegre” do dia 18 de Março de 1928 assim noticiará:

O Governo do estado, pela Secretaria da Agricultura, acaba de mandar a esta cidade um engenheiro para estudar e orçar as obras para a construcção de uma nova cadeia pública, attendendo que a actual está ameaçando ruir. Vae ser um benéfico serviço que se prestará à nossa cidade, e, para que o novo estabelecimento carcerário não seja erguido no mesmo local do antigo, centro da cidade e próximo da estrada de ferro, como que o dar uma nota de soffrimento e miséria ao transeunte que aporta a esta terra, a nossa Camara vae offerecer ao governo, o terreno próprio para essa construcção, afim de que a nova cadeia fique localisada em ponto mais afastado da cidade. É sem duvida, um passo de muito acerto e que vae ser dado, redundando em magnífico beneficio a Pouso Alegre (GAZETA DE POUSO ALEGRE, 1928, p. 02).

A construção de uma nova cadeia, segundo o jornal, será de grande benefício para a cidade, tirando da área central e das proximidades da estação ferroviária um prédio que não se torna padrão para o espaço. O diretor do jornal exercia a função de prefeito nesta época. Com isto, percebemos evidentemente suas intenções, em um momento que Pouso Alegre estava passando por um surto de progresso e desenvolvimento.

No ano de 1931 é demolida a cadeia na Praça Evaristo da Veiga e concretizado o prolongamento da Avenida Doutor Lisbôa. Ao prestar contas de sua administração, o Prefeito Dr. João Beraldo assim se expressou se referindo ao prolongamento da Avenida:

Quando deputado ao Congresso do Estado,consegui do Governo de Minas, de 1928 para 1929, que se mandasse construir a nossa atual cadeia pública. Dois objetivos tive, então, em vista: remover do centro da cidade um edifício que ali não ficava bem e conseguir um auxílio para o desejado prolongamento de nossa linda avenida. (...) consegui, perante o Congresso Estadual a aprovação de um projeto de lei, autorizando a doação à nossa municipalidade, do terreno então ocupado pela cadeia velha” (BERALDO, 1933, p. 13-14).

Possuído deste árduo desejo para com os avanços da cidade, o Prefeito Dr. João Beraldo, além de conseguir todo o espaço ocupado pela Cadeia, pela Praça Francisco Veiga, através da compra dos estabelecimentos e casas do entorno, consegue desapropriar todo aquele espaço para que o prolongamento fosse concluído, “(...) dotando a cidade de magníficos e modernos prédios, inclusive de um Grande Hotel, melhoramento de que tanto se ressentia a nossa cidade e para o qual concorreu a municipalidade” (BERALDO, 1933, p. 13-14).

Os jornais da cidade neste momento referiam-se sobre a importância do prolongamento da Avenida Doutor Lisboa. Dentre os diversos meios de comunicação locais, o Jornal “A Cidade” do dia 10 de Dezembro de 1933 trará em sua capa a matéria denominada “Avenida Dr. Lisbôa”. Com uma visão progressista, assim denota: “Pouso Alegre caminha, e a largos passos, para um grande amanhã de prosperidade”. No decorrer do artigo, percebe-se uma valorização da avenida, como principal ponto da cidade, no entanto deveria ter tido mais atenção no momento em que foi traçada. 

Ao concluir, o jornalista denota:

Imagine-se a Avenida Dr. Lisbôa num lançante suave, em manse declive, do Forum à Estação, sem os altos e baixos que lhe ficam a quebrar a perspectiva; com passeios nos devidos logares, arrematados convenientemente, tudo obedecendo aos preceitos da melhor technica! Seria uma Avenida linda e ficaria pelo mesmo preço que da defeituosa, para a nossa tristeza, nos dias presentes e futuros, de vez que incidimos, nesta época de tanta luz e tanto conhecimento, nos mesmos erros de nossos antepassados (A CIDADE, 1933, p. 01). 

A partir desta matéria percebemos que o problema estaria no planejamento da cidade, na construção e organização da avenida. Após o Teatro Municipal, a Avenida Dr. Lisbôa se estreitava em direção ao principal acesso da Estação Ferroviária. Neste ponto se encontravam  um tradicional Hotel da cidade e a Cadeia Municipal. Como podemos notar na imagem abaixo:

Imagem 3- Pouso Alegre, Largo da Cadeia- Década de 30[iv]

Na medida em que os ideais de progresso foram ganhando força na cidade, fez-se necessária uma melhor organização e reformulação urbana da cidade. Ao analisarmos os jornais, as imagens e os registros dos memorialistas percebemos fortemente a manipulação dos ideais republicanos, capaz de modificar totalmente um espaço em virtude dos trilhos do progresso, pautados nos ideais urbanísticos, por meio das instituições dominantes.

Diante destes acontecimentos devemos ter um olhar político. Este olhar, embora aponte e recorde a história, não a trata como depositário de datas e fatos, mas sim, um olhar “sobre o presente e, do presente, sobre o passado” (SARLO, 2005, p. 58-59) enfocando assim as diferenças, descobrindo assim as disputas ideológicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERALDO, João. Administração Municipal de Pouso Alegre 1927-1932. Belo Horizonte, MG: Imprensa Oficial de Minas Gerais.

BLOCH, Marc. Apologia da História ou Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

BORGES, Maria Eliza Linhares. História e Fotografia. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, 2003.

CALVINO, Ítalo. (1984). The gods of the city. Monumentality and the city. Cambridge. The Harvard Architectural Review IV in POSSAMAI, Zita Rosane. Metáforas Visuais da Cidade. Revista Urbana,ano 2, n°2, CIEC/UNICAMP, Campinas,  2007.

COSTA, Ângela Marques da. SCHWARCZ, Lilia Moritiz. 1890-1914: no tempo das certezas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

CHAUÍ, MarilenaConvite a Filosofia. São Paulo, Editora Ática. ed 13ª, 2003CRUZ, Heloísa de Faria & Maria do Rosário da Cunha Peixoto. Na oficina do historiador: Conversas sobre História e Imprensa.  In: História e Imprensa. Revista Projeto História. São Paulo, SP: Educ, 2007.

FENELON, Déa Ribeiro (Org). Muitas histórias, outras memórias. São Paulo: Editora Olha d’Água, 2004. 
KOSSOY, Boris. Os Tempos da Fotografia: o efêmero e o perpétuo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.

OLIVEIRA, Jose Marques de. Almanack do Município de Pouso Alegre, Rio de Janeiro, 1900.

SALGADO, Lucilia de Almeida Neves. O Brasil Republicano: O Tempo do liberalismo excludente – da República a Revolução de 30. Rio de Janeiro: Ed. Civilização, 2003.

SARLO, Beatriz. Paisagens Imaginárias. São Paulo, SP, EDUSP, 2005.

VEIGA, Bernardo Saturnino da. Almanack Sul Mineiro para 1884. Campanha, Mg, Typografia do Monitor Sul Mineiro, 1884.

FONTES

Jornais

A Cidade. Pouso Alegre, MG, Ano I, n°2, 10/12/1933.

Correio Sul- Mineiro. Pouso Alegre, MGAno I, n°18, 18/02/1905.

Gazeta de Pouso Alegre. Pouso Alegre, MG, Ano XII, n°466, 1



[i] Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.
[ii] VEIGA, Bernardo Saturnino da.  Almanack Sul Mineiro para 1884. Campanha, MG, Typografia do Monitor Sul Mineiro, 1884.
[iii] Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.
[iv] Acervo do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo.